segunda-feira, 3 de outubro de 2011

UM FILME QUE ME FEZ SENTIR

Num dia desses em que o céu está tão escuro quanto o asfalto, um dia cinza opaco, sinto a felicidade e serenidade reinar, tudo fica lento e quieto.
Saiu a rua fotografando cada olhar, cada riso, todos os passos e faço do meu percurso um longa metragem em “slow motion” recheado de imagens que me lembram Fellini.
Neste filme, sou um narrador que experimenta cada frase e vivencia cada enquadramento, fazendo dessa vivência um documento capaz de refletir o ritmo e a luz da cidade, minha paz e lucidez.
Toco as árvores e flores como se reencontrasse velhos amigos, me sento no chão e reencontro uma sensação de liberdade já esquecida, me deito olhando para o céu compondo formas e figuras nas nuvens.
Meu pensamento vagueia por entre os prédios, torres, construções inacabadas, vidas incompletas e vozes ofegantes, ouço o passeio do ar como expressão do silêncio.
Demorei para entender a importância de saber ouvir os silêncios e ver o vazio, somente depois deste entendimento consegui criar roteiros como o que escrevo hoje.
Continuo minha trajetória, passando por alamedas, correndo às margens do rio e absorvendo imagens que parecem cenários prontos para a cena final.
Vejo a “moça feia na janela”, ouço “conversa de botequim”, encontro “João Valentão”, enquanto “tu pisavas nos astros distraída”, e assim vou compondo a trilha sonora.
No entanto, alguns personagens insistem em protagonizar, transformando minha criação em plágio de “La Dolce Vita” , impedindo a criação de antagonistas caricaturais e cenas experimentais.
A tarde chega ao fim, o céu vai ficando negro, o trânsito faz um barulho ainda não experimentado nesse dia e, assim finalizo a captura dos sons e imagens...é chegada a hora de editar e finalizar.
Caminho para casa tentando manter vivo o sabor deste dia, quando de repente encontro um homem vestindo uma camisa branca envelhecida, escondido embaixo de um chapéu xadrez e cantarolando uma cantiga de roda.
Paro ao seu lado, tentando compreender sua história, imaginar suas experiências, sentir suas dores e alegrias, e então este homem me olha e, em tom de oração, me diz: - Sou um Santo, meu povo me canonizou, então tenho o direito e o dever de celebrar cada pôr do sol, de expressar toda a crença a mim confiada, portanto canto e passeio como manifestação de fé, fé de um Santo Marginal.
Depois deste encontro, descobri que ainda não posso encerrar essa história, tenho muitas vidas para desvendar, muitos lugares para sentir, muitos caminhos para percorrer. E assim, vou seguindo...

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